“A meninada precisa ser seduzida. Ler pode ser divertido e interessante, pode entusiasmar, distrair e dar prazer”
Lya Luft


Li um texto da Lya Luft na Veja da última semana. A frase que vai acima é parte do texto e reflete uma preocupação que tenho como docente. Pode ser algo pessoal, mas entendo que, como docente, tenho uma missão maior do que simplesmente ensinar um conteúdo. Acredito que tenho que instigá-los a investigar, pensar, questionar. Utopia ou missão, não sei e não me preocupo em saber. Ajo e ponto.

Um grande desafio é auxiliar na transformação de uma “geração 140”¹ em leitores. Indepentende da obra – eu mesmo não tenho paciência para alguns “clássicos” – o hábito da leitura tem vantagens inúmeras. Além de treinar a mente,

Twitter

enriquecer vocabulário, melhorar a escrita, a leitura pode proporcionar incontáveis horas de diversão a um custo muito baixo. Tão portátil quanto alguns celulares, um livro ainda tem a vantagem de não ser um objeto de desejo da maioria dos ladrões – o que é uma pena. Pode ser usado no metrô, em casa, na escola/faculdade, enquanto espera alguém no shopping… até mesmo no banheiro!

Há quase 2 anos faço uma experiência com meus alunos de 2º período na FIT. Essa turma tem comigo a disciplina de Fundamentos de Tecnologia que, apesar de ser tecnologia, é um conteúdo um pouco cansativo as vezes. Há alguns semestres, identifiquei que a média de leitura da sala era similar à média de leitura do brasileiro (algo em torno de 1,7 livros ao ano). O número não assustaria se não estivessemos falando de jovens com uma condição social estável e na maior capital do país. Eu me assustei. Esse número se repete em outras turmas e, por conta da missão que citei antes, propus-lhes um trabalho: indiquei alguns livros de ficção científica e tecnothrillers e desenvolvemos um trabalho de análise do ambiente tecnológico… do livro! Dan Brown, Michael Crichton, Asimov, Orwell tornaram-se nossos companheiros durante cerca de dois meses. Nas últimas apresentações, trouxemos de volta o “elemento 140”: com os slides online, fazíamos comentários e interagíamos com a apresentação através do Twitter. A experiência é incrível!

É interessante notar que, ao contrário do que muito se fala por aí, esses jovens podem, sim, tornarem-se leitores assíduos dos livros – e livros não necessariamente de papel, mas e-books, blogs e outros. Concordo plenamente com Lya Luft: eles precisam ser seduzidos. Não enganados, mas apresentados a outras possibilidades de leitura.

Fazer isso sem preconceitos e entendendendo as necessidades dessa geração é uma tarefa difícil, mas recompensadora.


¹ – Geração 140 é uma referência a aplicações internet como o Twitter, onde o usuário posta mensagens curtas que são acompanhadas por milhares de pessoas ao redor do mundo. O número de caracteres (140) é baixo pois segue a filosofia da mobilidade e praticidade, tendo como objetivo inicial ser usado com mensagens SMS em celulares.

Comente via Facebook

comentários

Prof. Sergio Seloti.Jr

Professor, pesquisador, consultor, empreendedor, Mestre Jedi e escritor

View Comments

  • Professor, adorei seu post..

    Confesso que fiz ou faço parte dessa turminha que não está acostumado com uma boa leitura, falta tempo, falta de ânimo.. ou quem sabe falta até vergonha na cara.. rs
    Este ano fui totalmente seduzida por um conjunto de quatro livros, "bestseller", que você com certeza já deve ter ouvido falar.. Crépusculo.. Um romance de tirar o fôlego de qualquer adolescente, sei que você vai falar que nem vale como leitura, não agrega conhecimento algum.etc..Mas você precisava ver como eu chorei e me divertir nas minhas idas e vindas de casa, trabalho, faculdade e tudo mais... Foi um verdadeiro encontro com minha alma... =D

    Professs... valeu pelo incentivo!

    • Paulinha, o hábito de leitura não é cultivado lendo livros sobre física atômica. Crepúsculo tem causado um frisson interessante de leitura. Eu mesmo gosto muito dos livros da Anne Rice (também sobre vampiros). Esses livros nos propõem horas de diversão e cultivam o hábito para que, depois, possamos fazer valer desse hábito para outras leituras menos prazerosas, mas necessárias.

  • Prof. gostei muito deste post, faz muito tempo que não pratico o hábito da leitura. O interessante é que, ao pegar um livro na biblioteca senti uma atração imediata pela leitura e pelo assunto ! Quero ajudar a diminuir as estatisticas do povo brasileiro que como o Sr. Falou é de menos de 1 livro lido por brasileiro !
    Abraço,

    • Puxa, Douglas! Fico feliz em saber! Espero que até o final do curso possamos melhorar bastante essa média.

      A propósito, a média é de cerca de 1,7 livros/ano

Share
Published by
Prof. Sergio Seloti.Jr

Recent Posts

Not Just Canvas

This is just a quick update. I'm structuring my new consultancy company in Europe, Not…

1 year ago

O Professor, a Cantora e o Guarda-roupa

Sobre a cantora dando aulas de empreendedorismo na faculdade... Não sou fã da música, nem…

3 years ago

A Casa do Baralho 2

A segunda temporada do O Mecanismo tem, a partir do episódio 6, uma forte inflexão…

5 years ago

🇺🇸 My favorite TED Talk

As a child, I dreamed of being an astronaut, a rock singer, a firefighter. I…

6 years ago

🇧🇷 Meu TED Talk favorito

Há um TED Talk que acabou se tornando o meu preferido: com vocês, sir Kenneth…

6 years ago

Fugir da luta?

O prof. Kanitz, a quem muito admiro e respeito, fez um post (neste link) chamado…

6 years ago